Essa gente de farda nunca aplaudiu ninguém



No Brasil pós-64, os políticos foram divididos em dois grupos. Num, os condenados a meia palavra. Noutro, os sentenciados a palavra nenhuma.
Certos nomes não podiam ser mencionados. Assuntos como censura, tortura e sumiço de pessoas eram proibidos.
Hoje, ocorre algo diferente. Submetidos ao poder civil, os militares herdaram o encargo de medidores de palavras.
Falam apenas o essencial. No mais, calam. Por vezes, porém, o silêncio dos militares grita. Repare na foto lá do alto.


Foi clicada nesta sexta (18) pelo repórter Alan Marques, no Planalto. Fora do quadro, Dilma Rousseff discursava sobre a lei que criou a Comissão da Verdade.
“Dia histórico”, declarava a ex-guerrilheira Dilma. Na platéia, todo mundo aplaudiu, menos os senhores de uniforme sentados na segunda fileira.
No código consentido dos comandantes militares, a ausência de aplauso é uma das maneiras de dizer pouco e insinuar muito.
Para o bom leitor de entrelinhas, ficou subentendido que a banda fardada do governo torce o nariz para a idéia de escavar o passado.
Linda cena. Imagem de um Brasil diferente daquele de outrora. Um país em que os sem-patentes recuperaram o direito a palavras inteiras.
O cenho crispado dos comandantes é compreensível, alvissareiro e curioso. Democraticamente, reagem ao discurso da ex-inimiga armados de régua.
Antes, prendia-se e arrebentava-se. Agora, recorre-se à sugestão do gesto, às entrelinhas do silêncio, ao subentido das mãos inertes.

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