Políticos usam as palavras com mais liberdade que os próprios escritores. O líder do governo, Cândido Vacarezza, afirmou que o Congresso não votou, esta semana, “porque há uma fadiga, um cansaço” entre os parlamentares.
Eles acabam de voltar do recesso. Tiveram um mês de férias, esta seria sua segunda semana de trabalho. Não se trata, com certeza, do cansaço que conhecemos, mas sim de um outro cansaço, sinônimo de crise na base do governo.
Qual a raiz da crise? Nela, têm um peso as prisões no Ministério do Turismo , as demissões nos Transportes, as promessas de faxina na Agricultura.
Mas não é só isso. Os deputados querem a liberação das emendas. Reclamam da crise econômica mundial e , alguns deles, como Jovair Arantes, do PTB, dizem que Dilma está preocupada com Londres, Nova York e Paris, todos distantes milhares de quilômetros de sua base eleitoral.
Dilma reclamou da operação no Turismo. Deveriam ter avisado, não podiam usar algema, enfim argumentos laterais, diante da evidência de corrupção.
De fato, não é preciso usar algemas. Mas o dispositivo legal exige que nos aviões, os prisioneiros usem algemas.
A crise não é das algemas. Ela é ditada por um momento internacional que pede contenção. Dilma está certa em acompanhar, atentamente, a conjuntura internacional.
Mas a crise tem outra face, além da econômica. No Brasil, o modelo de presidencialismo de coalizão está esgotado. Não dá mais para ratear ministérios entre partidos desesperados por dinheiro.
E os deputados querem mostrar que, sem dinheiro, não funcionam como base aliada. É preciso, na opinião deles, liberar as emendas e conter Polícia Federal e a imprensa, na denúncias de corrupção.
Não há saídas no horizonte imediato. É tarde para deter o processo de denúncias. O sonho do Planalto é uma ilusão. Não é possível combater a corrupção e , simultaneamente, estruturar um governo no qual ela é importante moeda de troca. Alguma coisa deve mudar nessa equação.