Sardenberg faz apologia do capitalismo e atribui crise aos gregos VI

Valorização do capital financeiro


É evidente que o endividamento excessivo, antes e depois da crise, decorreu do processo de valorização do capital financeiro num ambiente liberal de desregulamentação e pletora de capital (ou excesso de liquidez) respaldada por taxas de juros reais negativas nos EUA, Europa e Japão. Objetivamente, a superprodução de capital e de mercadorias (imóveis) engendrou a crise, que Krugman caracteriza de Grande Recessão.


Sobre culpas e culpados, peço paciência ao leitor (ou leitora) para citar mais uma vez o economista estadunidense ao abordar a queda do PIB na União Europeia no último trimestre de 2011. “Essa retração está atingindo países que nunca se recuperaram da última recessão. Apesar de todos os problemas dos Estados Unidos, seu produto interno bruto finalmente ultrapassou seu pico anterior à crise; o da Europa, não. E alguns países estão sofrendo dissabores do nível da Grande Depressão: Grécia [que amarga mais de quatro anos de recessão] e Irlanda tiveram quedas de dois dígitos na produção; a Espanha enfrenta 23% de desemprego; e a retração atual da Grã-Bretanha já é mais prolongada que a que enfrentou nos anos 1930.”


O que explica a diferença, conforme Krugman, é a política econômica. “Alguns líderes europeus – e uma boa quantidade de players americanos influentes – ainda estão casados com a doutrina econômica responsável por esse desastre. As coisas não precisavam estar tão ruins. A Grécia estaria enfrentando um problema grave independentemente das decisões políticas tomadas, e o mesmo vale, em menor escala, para outros países da periferia da Europa.”


“Mas as coisas foram agravadas bem mais que o necessário pela maneira como líderes da Europa, e, mais amplamente, sua elite política, substituíram moralização por análise e fantasias pelas lições de história. Especificamente, a economia de austeridade do começo de 2010 – a insistência de que governos deviam cortar gastos mesmo em face do alto desemprego – virou moda nas capitais europeias.”


“A doutrina afirmava que os efeitos negativos diretos do corte de gastos sobre o emprego seriam compensados por alterações na ‘confiança’, que os cortes de gastos radicais acarretariam um aumento dos gastos industriais e de consumo, enquanto os países que não conseguissem fazer esses cortes sofreriam uma fuga de capitais e uma alta das taxas de juros. Se isso lhe parecer algo que Herbert Hoover poderia ter dito, você está certo: parece mesmo e ele disse.”


“Agora, os resultados estão visíveis – e eles são exatamente o que três gerações de análise econômica e todas as lições da História poderiam ter-lhes dito que ocorreria. A fada da confiança não apareceu: nenhum dos países que cortaram gastos viu o antecipado crescimento do setor privado. Em vez disso, os efeitos depressivos da austeridade fiscal foram reforçados pela queda dos gastos privados.”


Fonte: Portal Vermelho

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