Jovens presentes em protestos se candidatam para ocupar cargo político

Cleyton Coringa
Jovens, insatisfeitos com os partidos, muitas vezes protagonistas nas manifestações do ano passado e, em 2014, candidatos. Embora esse não seja um perfil abundante, é possível encontrar em diversos palanques pelo Brasil candidatos que, no passado, condenaram o aparelhamento partidário das instituições, os conchavos entre os políticos e, mais pontualmente, repudiaram toda e qualquer legenda. Também não é difícil encontrar líderes de movimentos apartidários — mesmo dos anteriores a 2013, como a Marcha Contra a Corrupção e o Dia do Basta — exibindo apoio a políticos nas redes sociais.
“Manifestação, para mim, tem que ser apartidária. Outra coisa é a eleição”, defende Cleyton Coringa (PSB-RJ), candidato a deputado estadual. O jovem de 24 anos explica que era filiado desde os 18, mas nunca participou da vida partidária. “Nos atos, eu pedia para baixar as bandeiras de partidos e sindicatos. Sou candidato pela revolta com os políticos coruptos.” Figura frequente nos protestos no Rio de Janeiro em 2013, Cleyton é apontado pelos black blocs como um traidor, mas nega: “Fui testemunha, mas não a principal do inquérito. O meu depoimento não valeu de nada”, garante.
Outro que esteve nas ruas cariocas é Maycon de Freitas (PTdoB-RJ), que ganhou notoriedade em 2013 ao dar entrevistas como líder dos protestos no Rio de Janeiro — criticando todos os partidos. “Mudei de ideia pela convicção de que a gente não consegue fazer política séria e responsável estando fora dela”, justifica o aspirante a deputado federal. Aos 32 anos, ele pede a compreensão dos eleitores cariocas. “Fizemos a grande massa atentar para uma questão: o que faz um país andar? A política. Nunca discutimos tanto política como desde junho de 2013”, analisa, para se dizer, “de certo modo, de direita”.
“Não dá para acusá-los de contradição, em um primeiro momento, mas de um amadurecimento, sobretudo entre os mais jovens”, pondera Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Ele ressalta a dificuldade de análise por não conhecer em detalhes os candidatos, e pela “heterogeneidade no grupo que foi para as ruas”. Para ele, a ida às ruas pode “ter mostrado a alguns jovens que é possível fazer alguma coisa pela via partidária”, ou ainda ter levado as legendas a procurarem diretamente os líderes das manifestações.
Contradição
A busca por lideranças foi o que levou Pedro Ivo (PDT-DF) a se candidatar a distrital. “O Reguffe tem uma história parecida com a minha, e ele me convidou vendo essa semelhança.” Ex-integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB), em uma gestão que preza pelo apartidarismo, o pedetista não acredita que haja contradição. “Na campanha, não falo ‘venho do movimento apartidário, por isso vote em mim’”, justifica.
Integrante do Comitê Popular da Copa no DF, Rafa Madeira (PSol-DF) também não acha que os manifestantes que protestaram convocados pelo comitê possam se sentir enganados ao vê-lo candidato a deputado federal. “Além do voto, convidamos para a luta”, explica, detalhando a argumentação usada nas abordagens eleitorais. “Não queremos a transferência de protagonismo, queremos a companhia nas pautas. Pedimos que o eleitor não abra mão do direito de organização e de protesto”, explica.
Do Estado de Minas

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