Bode expiatório
Meio a contragosto, ele reconhece em uma parcimoniosa linha: “Sim, os bancos emprestaram irresponsavelmente para o governo grego, sabe-se agora”. E daí? Isto não abala sua conclusão de que a culpa cabe aos gregos, que gastaram dinheiro a rodo, sem pesar consequências. “Gastaram por conta, sem se preocupar, por exemplo, com a expansão dos investimentos”.
O que diria nosso colega (desta triste profissão) sobre os EUA, cuja dívida externa equivale a 40 dívidas soberanas da Grécia? Não é preciso ser um gênio em economia política para compreender as relações de causa e efeito entre as dívidas estadunidenses (interna e externa, pública e privada) e o desastre financeiro que, desde 2008, perturba o sistema capitalista mundial. Devemos esquecer que a crise da dívida externa na Europa é uma continuidade óbvia e inevitável daquele que teve início no interior da maior potência capitalista do planeta?
Isolar a Grécia do contexto geral e apontá-la como bode expiatório da crise é muito fácil, até mesmo pelas particularidades do endividamento grego, que em muitos aspectos não é comparável ao da Irlanda, Espanha, Portugal ou Itália. Porém, é um truque ideológico que não ajuda a compreender as origens e natureza da crise que está em curso.
Fonte:Portal Veremelho